A menina que comia rosas

Toda tarde ela aparecia faceira com aqueles lindos cachos dourados, a farda bem engomada, os sapatinhos limpinhos e um sorriso de criança simpática e bem educada. Como quem não quer nada, olhava para um lado e depois para o outro e pegava uma rosa que, delicadamente, desabrochara por cima do muro.

A cada tarde que a simpática garotinha aparecia, uma rosa desaparecia. Tudo muito natural não fosse um detalhe: as rosas que ela arrancava pertenciam ao jardim de D. Corina, que tinha uma filha de nome Terezinha. A linda garotinha não percebia o risco que corria ao praticar tal ato. Mal sabia que a filha da dona das rosas já havia notado algo estranho no jardim da sua casa e que, por isso, resolveu investigar o sumiço das flores. 

Sem consultar livros de detetives, Terezinha assumiu o caso. Reuniu uma lista de suspeitos, mas sempre desconfiou daquele sorriso “amarelo” e daquele olhar “fingido” da educada menina de cachos. Mas era preciso ter certeza. Foi então que ela teve a brilhante ideia de  se esconder no meio da roseira.

De longe, o sol refletia no cabelo dourado... O sapato brilhando, o uniforme escolar sem nenhum defeito, o sorriso de comercial de pasta de dentes. A falsa perfeição precisava ser desmascarada, afinal, ela era uma ladra. Chegando em frente ao muro baixo, que dava para a bela roseira, ela repetiu o gesto de sempre: olhou para os dois lados a fim de ter certeza de que não seria pega em flagrante e... Arrancou a mais linda de todas as rosas. Mal deu tempo de comemorar a façanha, sentiu algo pesando-lhe sobre o corpo. Caiu no chão e quando viu, lá estava a herdeira do jardim por cima dela, alimentando-a com as pétalas de rosas. E quanto mais ela abria a boca para gritar por socorro, mais pétalas ela engolia.

Na tarde seguinte, ela passou com os mesmos cabelos dourados, sapatos alinhados e farda engomada. Porém, o sorriso de comercial de pasta de dentes agora moldava a face de Terezinha, que molhava tranquilamente suas lindas plantinhas.